sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Metamorfose


      Aqueles olhos claros e aparentemente puros me fitavam de um modo que  me deixava sem graça, ele prendia toda a minha atenção e fazia as minhas preocupações parecerem insignificantes, aquela cena era definitivamente mágica e eu me sentia de certo modo possuída por aquela situação.
      Na praia a noite estava fria, mas eu me sentia aquecida não só pela fogueira que ardia em frente aos meus olhos, mas também acolhida pela felicidade que era exalada por aquelas pessoas que eram de certo modo queridas por mim.
      Apesar do clima descontraído de festa que pairava ali eu me sentia alheia àquela situação e pelo modo como os acontecimentos se desenrolaram imagino que ninguém havia percebido os traços de preocupação evidentes em minha expressão, continuei a olhar diretamente para ele do mesmo modo que ele fazia enquanto conversava com Alec.
      O poder dele sobre mim era inacreditável, eu o desejava mais do que sentia necessidade de respirar naquele momento. Queria o toque de suas mãos suaves em meu rosto, em meu cabelo, em meu corpo. Ansiava que sua voz doce e macia preenchesse meus ouvidos e acalentasse meu coração que era, como sempre havia sido, frio e inabalável e que agora palpitava ate mesmo com a pronuncia de seu nome.
      Desejava ansiosamente que seus braços fortes me aninhassem em seu peito me dando segurança. Sentia uma vontade quase incontrolável de encostar meus lábios inexperientes e desajeitados nos seus macios e doces. Seu sorriso havia se tornado meu porto seguro, minha propria razão para sorrir.Mesmo que ele nem imaginasse eu precisava dele.
      Sim...eu precisava dele.
      Precisava que ele existisse, que ele sorrisse, que ele estivesse ao meu lado. Precisava dele, de seus abraços, de seus toques. Precisava e queria. Eu estava presa naquela idéia quase absurda enquanto todos se divertiam a minha volta. Eu ainda o olhava, fitando cada detalhe da sua virilidade. Ele era absurdamente lindo.
      Imagino que minha expressão não fosse das melhores, pois ele logo me perguntou sem se mover um dedo se eu estava bem e eu imersa no que eu havia acabado de perceber só consegui mover a cabeça quase que dizendo “Sim, me deixe em paz” e voltar para onde eu estava em minhas considerações sobre ele mesmo.
      A verdade pairava em meus pensamentos que agora se focalizavam em apenas uma coisa. Eu precisava dele, eu estava mais do que certa disso. E do jeito que eu me sentia isso só podia significar uma coisa.
      Eu o amo!!!
      Não, não, não... Eu não podia amar. Era muito forte, muito desnecessário naquele momento, era até muito doloroso. Imagino que pelo fato de não ter certeza sobre ser correspondida de maneira que não aumente as desilusões que eu já colecionava na minha vida.
      Segundo porque eu não podia amar afinal eu era fria, dura, adulta demais, não saberia lidar com tudo isso. Não podia deixar alguém me abalar, já tinha problemas sem solução demais na minha vida.
      O que fazer então? Se eu não conseguiria controlar meus desejos nem calar sentimentos e pensamentos que me consumiam por inteira além de ter a certeza de não ser correspondida. Não deveria contar ou agir e muito menos esperar que ele fizesse alguma coisa em relação a isso.
      Eu acabara de descobrir meu amor, meu primeiro amor, mas ele nunca o descobriria.
      Agora sim, eu estava completamente perdida. 
      Achar uma solução parecia impossível, mas eu precisava me acalmar antes de correr pra longe dali. Comecei a repetir mentalmente “Fique quieta Livie” ou “Não é tão ruim assim, pelo menos ninguém morrerá com isso.” Mas nada parecia adiantar, então respirei fundo e decidi ir embora. Ao me levantar foi como se ele lesse meus pensamentos, veio ate mim com aquele sorriso lindo estampado em seu rosto perfeito.
_A onde vai Livie? _ele perguntou parando a alguns centímetros de mim.
_Pretendia ir para casa, estou com uma dor de cabeça terrível_ menti sabendo que era o único jeito de ir, mas ele pareceu preocupado então emendei_, mas nada preocupante.
_Bem, tem certeza?Posso ligar para um medico se quiser. Há algo que eu possa fazer?
_Não se incomode, só preciso ir para casa descansar. _e sorri com a preocupação dele.
Eu começava a me iludir.
_Me sentiria melhor se pudesse deixá-la em casa. Esta a pé certo?
_Hmmm, se isso te deixa melhor tudo bem! Mas sabe, não é que ninguém queira atacar uma garotinha estranha como eu as 11 da noite, só acho que hoje não seja o dia!_ ri meio sem graça tentando descontrair o ambiente enquanto caminhávamos.

      Apesar da distancia não ser longa, aqueles minutos pareciam durar uma eternidade, o silencio mórbido em que nos encontrávamos chegava a ser constrangedor. Eu estava imersa em perguntas sem respostas e me sentia muito envergonhada para avançar qualquer assunto que ousasse sair da minha mente e por mais estranho e improvável que seja ele parecia compartilhar desses sentimentos comigo.
      Quando estávamos quase chegando ele decidiu romper de vez aquele vasto espaço imaginário que havia sido criado entre nós.
_Sabe Livie, você já é tão importante pra mim! _ Pronto, era só o que me faltava, Já não bastava que eu me iludisse sozinha? Isso ainda me tiraria algumas horas de sono esta noite.
_Hmm... o que quer dizer?_ Eu disse o fitando, esperava por uma resposta ansiosa demais naquele momento.
_Bom, faz tão pouco tempo que a gente se conhece, ou melhor não se conhece direito. Mas eu me preocupo com você, acho que seremos bons amigos.
_Ah_ foi tudo que consegui dizer de imediato, ele me pegava de surpresa toda vez que se dirigia a mim. Esperei alguns segundos para que aquela onda de adrenalina passasse pelo meu corpo e continuei_ Acho que sim, seremos bons amigos eu espero! Mas acho que isso te exigiria muita paciência._ele riu.
_Acho que já notei, vamos dizer, que você tenha lá suas peculiaridades. Mas não posso dizer que eu seja muito diferente, posso ser muito... Escorregadio às vezes. Se é que me entende. _ Ele disse enquanto me olhava amavelmente e eu pensava como poderia entender.
      Quando chegamos a minha casa, parei imaginando que ele não soubesse onde eu morava mas tenho a impressão de que ele sabia muito bem a onde parar. A casa estava escura, morta, sombria como tem estado a muito tempo. A alegria que a havia ali morrera faz tempo.
      Me despedi dele, um pouco envergonhada pelo nosso assunto anterior e com a mesma leve impressão que eu costumava ter de que aquela podia ser a ultima vez que eu o veria.
      Entrei em casa tentando fazer o mínimo de barulho possível, não queria acordar ninguém para não ter que explicar onde estava. Cheguei ao meu quarto com muito sucesso e me deitei, sem fazer nada eu simplesmente me acomodei em minha cama deixando que toda a tensão, o medo e as preocupações que eu sentia se esvaíssem do meu corpo.

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